sábado, 22 de dezembro de 2012

Escrever é um ato de fé


Bem, já que o mundo não acabou, vou escrever.
Escrever é um ato de fé, e preciso praticar até que a fé se torne convicção.
Preciso do trabalho socialmente necessário, ou seja, todas as condições necessárias (estar mais ou menos bem alimentado, ter um teclado, uma caneta e um papel, uma porta fechada, ninguém interrompendo, nenhum telefone tocando, quem sabe uma madrugada como agora e quem sabe o jazz) para simplesmente sentar e escrever, sem outras preocupações. Talvez escreva com Art Farmer e Gigi Gryce e me lembre que até as distrações, até o café que tomo, até – principalmente – a contemplação, que os pobres de espírito acham que é fazer nada, tudo isso faz parte do processo de criação, e tudo pode desde que ao fim de tantas ideias pairando no ar se tenha um resultado material, um texto. Simplesmente escrever, que também é uma forma de viver, segundo Flaubert.
A materialidade do que um artista cria é o resultado de todas as suas vivências, o ambiente e a família no qual ele foi criado, os traumas, as alegrias, as decepções, as lutas, os sonhos. O amor, é claro. Por alguém ou por algo. Pela sua arte, pelo fazer, pelo realizar. Esqueça a ideia de ensaio, disse Stephen King. É simplesmente fazer aquilo que você ama fazer, aquilo no qual você é bom (seja aquilo o que for) até seus dedos quebrarem e seus olhos caírem, e cada performance é única. Você dá seu melhor, mesmo que o melhor não seja o melhor, mas seu possível. Seu melhor pode ser uma frase, e uma frase ruim. Mas ainda assim, ela existe, é real. É material. Lembro que a primeira vez que um projeto para um livro de contos meu foi recusado, mais de dez anos atrás, um dos carinhas da banca atacou meu argumento de que literatura não é feita de ideias, mas sim de palavras. Dizia ele (tenho as cartas de recusa até hoje) que um cardápio de restaurante e uma bula de remédio são feitos de palavras, e a literatura é que é feita de ideias. Ao longo dos anos, sempre lembrei dele como um mané, que recusou o projeto e nem entendeu o que eu quis dizer. Literatura é feita de palavras, não de ideias, assim como a música é feita de notas e de compassos, não de ideias. Sim, temos uma ideia para uma história, mas temos que juntar fumaça e transformar aquele monte de ar em palavras. Do contrário não temos um texto. Do contrário, qualquer um – qualquer um mesmo – que tivesse uma simples ideia para um livro seria capaz de escrever um livro; qualquer um que conseguisse assobiar uma melodia seria capaz de realmente fazer um arranjo e tocar os instrumentos, criando assim uma música, com corpo. Mas não é assim que funciona. Precisamos da materialidade, do produto final, quantificado em 3 ou 3000 notas; em 3 ou 3000 palavras, quem sabe 300.000, porque a gente só lê o resultado final de um livro. Não lê os rascunhos, as páginas jogadas fora, as frases deletadas, até as ideias rabiscadas no bloquinho. E sem esse monte anônimo, que jamais veremos, o produto final não seria possível.
Deixo aqui um abraço afetuoso para meu bom amigo René Cabrales, cujo agradável almoço de ontem me fez levantar para escrever de madrugada hoje (as madrugadas são a prime time para escrever e ouvir música com fones de ouvido, sonhar, viajar. Ler, escutar e observar também, porque tudo, como ele diz, é income, até as conversas que a gente ouve na mesa ao lado. Tudo é material para o moinho).
Enfim, Natal é hoje, Ano Novo é hoje, Março é hoje, Segunda-feira é hoje. Outono é hoje. Já que o mundo não acabou, hoje vou escrever.
 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

E-Distant Thunders


Não espalha por aí, mas é possível que os contos do Distantes Trovões se tornem um e-book em breve, e por uma editora porreta.

Aguarde novidades.

(Hoje ao som dos homens de honra de Jeremy Pelt)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Destilando com Literatura e Chimarrão


Eu escrevo só quando a ins­pi­ra­ção bate à porta. Feliz­mente, ela bate à porta todas as manhãs às nove em ponto.


Leio a frase de Somerset Maugham, enquanto o vulcão se aproxima (e ainda nem começamos o maldito verão, oh my god), destilando aqui na cidade-sorriso, os dados continuam rodando para o projeto da história de Carol e para o um pouco eterno livro, ambos sendo lidos e avaliados neste momento. A dica cultural do dia, aproveitando que ontem foi quarta-feira, quando Ali Luke manda sua newsletter, descobri este belo site do João Nunes, onde ele fala sobre os sete conselhos práticos dos escritores a sério, enumerados anteriormente por Ali, além de outros belos textos para manter a chama da escrita acesa.
Ainda falta muito para o outono e o friozinho alegrarem meu coração. Enquanto isso vamos trabalhando e tentando manter o foco. Hoje com a Rainha do Sul, uma erva porreta do pessoal de Novo Barreiro, e que descobri na feirinha em frente ao Mercado, que vai até sexta.