quinta-feira, 2 de junho de 2011

RIP completa 18 anos

Enquanto a presidente do complexo onde fica a Distant Thunders Corporation e minha progenitora foi dar uma bandinha para fugir do frio, e antes de fazer o chimas e começar a trabalhar em meu escritório, vi a maravilhosa neblina e o friozinho mágico de um outono típico da cidade-sorriso. Há exatos 18 anos, no mitológico ano de 1993, tive os dois primeiros períodos da quarta-feira de biologia, e a professora pediu um trabalho para a quinta. De tarde, lembrei de uma tia minha falando sobre um certo conhecido nosso, que tinha o passado muito sofrido, pelo menos na visão dela, e vi que ela falou aquilo com uma certa admiração pela superação dele, como quem diz “depois de tudo, ele ainda está aí”. Com aquela eterna história adolescente de precisar ser aceito, pensei eu mesmo em um amigo imaginário, que também tinha tido um passado turbulento, de muitos excessos, e hoje era um cara super certinho, que andava na linha, talvez como uma reparação a si mesmo e ao mundo. A história veio para mim tão pronta que decidi escrever no caderno. Nascia ali o personagem RIP, cuja autobiografia levei horas datilografando, então catando milho, tecla por tecla, quando ganhei minha primeira máquina de escrever, que tenho até hoje, minha Brother GX-6750. Tirei alguns xerox e dei para vários amigos, inclusive uma professora de literatura, dois anos depois. Mas naquele dia acabei não fazendo o trabalho de biologia, e rodei no fim do ano (por apenas dois décimos, então a história ficou meio mal contada). Mas isso não importa. Tenho o caderno onde escrevi a autobiografia do RIP até hoje, e carrego junto a vocação registrada nas linhas de um personagem com o qual escrevi mais dois extensos contos (um deles um calhamaço mandado por carta para vinte pessoas anos atrás). E segui escrevendo, e estou escrevendo em uma quinta-feira de manhã, 18 anos depois. Embora tenha feito, e esteja fazendo, outras coisas da vida, continuo produzindo literatura. A melhor maneira de virar gente grande mas sem perder o encanto é, de alguma forma, continuar resistindo. O RIP virou gente grande, e posso identificar traços dele em Pedro Revell e Carol, protagonistas das duas narrativas mais longas que escrevi até hoje.

Então aproveito minha rápida semana de home alone para mergulhar mais na cuidadosa tradução de Robertson Frizero para as Cartas de Dostoiévski, em edição de luxo, repletas de suas convicções sobre o fazer literário (ele diz gostar muito do trabalho de Pissemski, “um mestre em contar histórias”, mas acha lamentável ele escrever rápido demais, “muito rápido e em demasia. Um homem deve ter mais ambição, mais respeito por seu talento e ofício, e mais amor pela arte. (...) Os personagens colossais, criados pelos autores colossais, em geral nascem do trabalho demorado e persistente”).

Além disso, temos várias pautas para os próximos dias, como produzir o que faltou para o Laboratório de Autores, começar a rever a Sétima Temporada da série preferida deste blog, talvez começar de novo o Faulkner, talvez começar a ler o Kind of Blue (o livro, não o disco), estudar, escrever para as teachers (18 anos depois, me tornei um bom aluno, rá!), e mandar alguma contribuição para o Escritores Independentes, que foi criado a partir dos textos da oficina.

E vamos que vamos, que a hora é agora.

3 comentários:

  1. pois é, ser poeta aos 17 anos é fácil, mas dezoito anos depois, não é pouca coisa. E seguimos a viagem; navegar é preciso!
    Vou mandar um texto para os independentes, afinal de contas eu também sou um deles.

    Aquele abraço! gostei do post

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  2. Hmm, estamos conectados, companheiro. :) Esses dias ouvi que a gente tem que aprender a navegar na turbulência, e acho que é mais ou menos por aí.

    Manda o texto mesmo. "O plantio é opcional, a colheita é obrigatória". Se vale para as coisas ruins, deve valer para as boas também. Abração!

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  3. Em tempo: fiquei pensando no "ser poeta aos 17 anos é fácil, mas dezoito anos depois, não é pouca coisa".

    Essa valeu o dia.

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